Histria
Esprito Santo do Pinhal SP
Religiosidade, disputa judicial e trgicos
acontecimentos cercaram a fundao de Esprito Santo do Pinhal Corria o ano de
1849. Homem profundamente religioso e equilibrado, o fazendeiro Romualdo de
Sousa Brito comeava mais um dia de trabalho em suas terras, iniciando a
derrubada de alguns pinheiros - ento existentes no atual largo da Matriz - para
o plantio de milho quando gritos de desafio e tiros de espingarda foram-lhe
dirigidos pelos proprietrios das terras vizinhas, obrigando-o a interromper o
servio.
O incidente, ltimo de uma srie de acontecimentos desagradveis que vinham
ocorrendo desde 1845, quando Romualdo comprara 66,5 alqueires da Fazenda do
Pinhal, levou o fazendeiro a tomar uma deciso: ele e sua mulher doariam uma
rea de quarenta alqueires da fazenda ao Divino Esprito Santo a fim de que, no
mesmo local onde ocorrera o incidente, fosse construda uma capela. Em 27 de
dezembro daquele mesmo ano foi lavrada a escritura.
A deciso de Romualdo, entretanto, no foi bem recebida por todos os
proprietrios das terras que compunham a Fazenda do Pinhal. Antes da
transcrio, alguns procuraram anular a escritura e chegaram at a provocar
distrbios, iniciando a derrubada de matas e construindo benfeito-rias nas
terras doadas. Diante desses novos incidentes, talvez a doao nunca tivesse se
concretizado de fato se dois trgicos acontecimentos, atribudos na poca a
causas sobrenaturais, no tivessem ocorrido, fazendo cessar as hostilidades que,
cada dia mais, se agravavam.
O primeiro desastre aconteceu com uma criana. Estava uma menina a peneirar
milho quando o espeque que segurava o madeiro do monjolo desprendeu-se e caiu
sobre ela. A garota morreu na hora. Na mesma ocasio, um carpinteiro faleceu ao
cair de um andaime.
Interpretadas como castigos do cu, essas ocorrncias acabaram influindo de
maneira decisiva para serenar os nimos, consolidar a doao feita e decidir a
sorte da povoao nascente.
Disputas At algumas dcadas atrs, muito pouco se sabia sobre a disputa pela
posse das terras da Fazenda do Pinhal que culminou no episdio envolvendo
Romualdo de Sousa Brito. Todos os registros sobre a histria da cidade
assinalavam uma "acirrada demanda pela posse das terras", mas os motivos que
levaram a ela eram ignorados ou, talvez, deliberadamente omitidos.
Recentemente, porm, o pinhalense Roberto Vasconcellos Martins encarregou-se de
desvendar o mistrio. Em seu livro "Divino Esprito Santo e Nossa Senhora das
Dores do Pinhal - Histria de Esprito Santo do Pinhal", Martins rene
documentos que resgatam os fatos desde o incio da demanda pela posse das terras
da Fazenda do Pinhal at o desenlace final .
Depois de pesquisar detalhadamente todos os episdios que envolveram a doao
das terras ao Divino Esprito Santo, Martins est certo de que a cidade ainda
est devendo uma homenagem maior a Romualdo de Sousa Brito e sua mulher, Teresa
Maria de Jesus. "Romualdo de Sousa Brito um homem para os nossos dias. Foi um
conciliador que, com rara viso, conseguiu pacificao e harmonia entre os
primeiros povos desta terra, sem fazer uso da violncia, sem o derramamento de
sangue", enfatiza Martins na introduo de seu livro.
Ao contrrio do que se imaginava, ele destaca que Romualdo de Sousa Brito no
veio direto de Mogi das Cruzes, sua cidade natal, para desbravar as terras de
Pinhal e fundar a cidade. Na realidade o processo foi bem mais lento. Romualdo
viveu em Mogi das Cruzes at os 20 anos de idade, depois ou para Bragana e,
aos 22 anos, mudou-se para Mogi Mirim onde trabalhou como e feitor
num engenho de acar e aguardente para, somente 13 anos aps seu casamento,
comprar sua primeira propriedade em territrio pinhalense.
Para Martins, Romualdo atualssimo, um homem dotado de uma energia mpar,
temperada, no entanto, pela moderao do esprito de f e religiosidade.
"Romualdo um grande exemplo aos homens que tm por misso conduzir os destinos
do povo brasileiro. Ele conseguiu construir e unir os homens do povoado num
momento em que tudo parecia estar perdido, num momento em que avizinhava-se o
caos", ressalta. Martins finaliza lembrando que Romualdo foi fervoroso catlico,
uma herana que ficou profundamente enraizada na alma do povo pinhalense.
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